domingo, junho 18, 2006

Fifa tenta esconder lugares vazios

Postado originalmente em: http://www.trivela.com/copa06/index.asp?Fuseaction=Conteudo&ParentID=8&Menu=16&Materia=443

MUNIQUE – Ao início do segundo tempo de todas as partidas da Copa do Mundo, o placar eletrônico e o sistema de som dos 12 estádios anunciam o público presente. E o resultado foi sempre o mesmo: “Ausverkauft” (ingressos esgotados, em alemão) em todos os 24 jogos já realizados até este sábado. Os lugares vazios nas arquibancadas e nas tribunas, porém, deixam a dúvida: será que todos os ingressos foram, de fato, vendidos?
Em algumas partidas, como Holanda x Sérvia-Montenegro, disputada em Leipzig, foram contabilizados mais de mil assentos vazios em todo o estádio. “Me incomodou muito ver, da tribuna, tantos lugares sem torcedor”, afirmou Horst Schmidt, vice-presidente do Comitê Organizador, que completou: “Triste é saber que havia milhares de pessoas do lado de fora, desesperadas por uma oportunidade de entrar no estádio”.
Quem vê pela televisão – e até mesmo no estádio – muitas vezes não tem a impressão de que existam lugares vazios. Principalmente porque eles não estão concentrados em um determinado setor das arquibancadas, como aconteceu na Copa do Mundo de 2002, em que dava para perceber, em algumas partidas, mais de 10 mil assentos desocupados.
O Comitê Organizador aponta os patrocinadores oficiais como responsáveis pelo vazio nos estádios. Quase 20% da cota de ingressos foi entregue às 25 empresas que bancaram a realização do Mundial. Em muitos casos, essas companhias não conseguiram distribuir entre funcionários e clientes e, em vez de fazer o que pedia a Fifa, não devolveram as entradas para que elas fossem colocadas à venda por métodos legais.

Mascarando o vazio

Para diminuir a impressão de que os estádios não estão lotados em sua plenitude, os organizadores do Mundial encontraram uma maneira de mascarar a realidade: colocar voluntários nos assentos vazios. Geralmente designados a ajudar torcedores e imprensa, os voluntários, vestidos de calças azuis marinho e blusa azul celeste, podem ser vistos sentados em meio a torcedores comuns, muitas vezes até torcendo e tirando fotos.
No total, cerca de 500 voluntários trabalham em cada uma das 12 sedes do Mundial. Nos casos de jogos em que o número de assentos vazios não chegou a muito mais de uma centena, como Irã e México, em que apenas 100 lugares vazios foram contabilizados, chega a haver até revezamento.

Imprensa também colabora

Não é só entre os torcedores que se percebem lugares vazios. Nas tribunas de imprensa de algumas das partidas realizadas até agora, fica clara a quantidade de ausências. No jogo entre Portugal e Angola, por exemplo, havia 50 lugares vazios entre os quase 600 designados à imprensa.
Esse descaso de alguns dos mais de 6 mil jornalistas credenciados tem tirado a Fifa do sério. Principalmente porque, em diversas ocasiões, há gente interessada em trabalhar na partida que ficou de fora. Não houve ausências, é claro, em jogos como Brasil x Croácia e até mesmo Inglaterra x Paraguai, em que a demanda é tão grande que quase ninguém que está na lista de espera conseguirá ver a partida no estádio.
Nesta sexta-feira, a Fifa emitiu o primeiro aviso a muitos dos jornalistas que tinham ingressos e não avisaram a entidade que não poderiam comparecer aos jogos. De acordo com as instruções dadas antes do início do Mundial, mais um ‘no-show’ significará o adeus à possibilidade de ver outros jogos in-loco.

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