quinta-feira, abril 26, 2012

Controlando a própria explosão

Para as Companheiras e Companheiros do ENEGRESER.
E para Edson Cardoso Lopes, mestre de todos de nós. 


Foram dias de rever todos os argumentos sobre ações afirmativas. A insuficiência deste debate aqui no Brasil, a abstenção nas discussões... Hora de respirar fundo e ter a calma necessária para liberar a raiva histórica contra o racismo no momento certo, para os resultados certos. Política de redução de danos, pois os desgastes e aperreios são certos.

Relembrar de trajetórias na Universidade. De ser um ponto fora da curva. De quem ficou pelo caminho, fora e dentro da universidade. Pois a máquina de moer carne continua ativa. Com dentes pesados sobre nós. 

Lembrar em parte da recusa de reflexão do que é privilégio no Brasil, não só dos que são beneficiários mas por alguns que são atingidos por eles. E da radicalidade sempre ser isolada em benefício de um falso consenso que não vai fundo a problemática social no Brasil. Que tem cor, SIM. E Gênero também. E que vai muito além das cotas, sendo apenas um primeiro passo. Que ainda precisa ser aprofundado com a produção de conhecimento constante. Como sujeitos ativos e reais, não mais como objetos.

Temos muito a Caminhar. A Controlar Nossa Própria Explosão.
Para explodir e transformar o que ainda deve ser transformado. 




quarta-feira, abril 11, 2012

Força Masculina? Sei...

Dentro de desta cela de ossos, carnes e sangue desafinados também bate um coração. Mesmo dentro dos mais ogros dos ogros, cruzamento do Seu Lunga com Courtney Love. E bate tanto que até machuca... 
Bate da insegurança de corresponder aos papéis sociais impostos, ou pelos preços a pagar quando jogar para o alto estes papéis sociais. E dentro deste latifúndio não produtivo chamado vida, nós homens somos educados para não manifestar nossos sentimentos. E ficamos entalados dentro de toda complexidade de emoções que o ser humano é capaz de manifestar. 
Medo de se aproximar do feminino. De perder a Potência, de nos tornarmos fracos de maneira geral. Poisé, mas de tanto pensar no que quer evitar a coisa vem, com força. Muitas mulheres reclamam JUSTAMENTE que muitos homens estão reprimidos e fechados, o que as reprime também.
Muitos tentamos sair deste impasse. Exageramos nos movimentos, e acabamos dando um Duplo Twist Carpado em nós mesmos, nos desestabilizando. Quando às vezes os movimentos pedidos são outros.
(Palpite de um desconhecedor das mulheres: acho que elas querem flexibilidade e abertura, que se movimente o feminino delas. E para isso tem que ter o feminino forte dentro de nós. Aprender a conduzir e tocar o feminino fora. Nelas.
A tal da pegada. E não é força, é jeito.)

Fragilidade é negar sua própria fraqueza. Sem saber que esta fraqueza, quando bem trabalhada, e até superada, pode nos tornar seres humanos melhores.

Não só para eles. Mas é o mais importante. O resto é conseqüência.

segunda-feira, abril 02, 2012

Eu queria Ser Odair José... #desarquivandoBR

O básico de qualquer ditadura que se preze é o controle da vida. A repressão persegue qualquer idéia contrária no campo cultural de maneira ampla. Podemos ver isso claro quando vemos a crítica comportamental que alguns Saudosos de 64 fazem, de forma bem ativa...

A obra de Odair José foi, nos anos 70, um dos marcos de ruptura do pudor brasileiro na música. Pegou um pouco da experiência de vida dele: Cantou muito em boates na região do cais do Rio de Janeiro. E, como um repórter, muito do que via da realidade do Porto ele colocou na música, convidando o ouvinte a reflexão e questionamento: exclusão social, alienação, adultério, homossexualidade, prostituição, anticoncepcionais, consumo de drogas e racismo. Sem metáforas. De forma adulta. Falava para um público, digamos, classe C, majoritariamente católico, conservador, apegado aos tabus, aos valores sociais vigentes.

Por tudo isso, foi um dos artistas mais perseguidos por fazer "canções que iam contra a moral e os bons costumes", preceitos considerados ‘sagrados’ pelos militares, Igreja, elite cultural...

Estamos falando do passado, mas ele se reflete no presente, quando pensamos que muitos destes temas ainda são problemáticos de serem abordados atualmente. Ainda falta maturidade na sociedade para falar sobre estes assuntos. O que cria o Caldo Cultural para que qualquer forma de restrição avance.

Quando todo mundo quer, no fundo mesmo, ser Odair José. E falar sem repressão do que sente e do que vê...

 


EDIT (01/04/2018).: por algum motivo que ignoro, quase todas as versões "Eu queria ser John Lennon tem cerca de um minuto a menos de música. Justamente a parte que o eu-lírico que queria ser John Lennon se declara a...
...Linda MacCartney.

Encontrei aqui a Versão que a Columbia fez para a coletânea em homenagem a Odair José, sem cortes.

 

Este post faz parte da quinta blogagem coletiva #desarquivandoBR, que se realiza de 28/3 a 02/4.

domingo, abril 01, 2012

Ele não era Chico Buarque. #desarquivandoBR

Não era a primeira música crítica que Luiz Ayrão fazia. Mas como falei antes, havia uma certa cegueira ao brega. O livro "Eu não sou Cachorro Não" de Paulo César Araújo, que fala sobre como estes Artistas foram tão ou mais perseguidos pelo Regime Militar quanto os artistas de "autorizados pelo cânone oficial da MPB" a serem "engajados". 
Lançada dia primeiro de abril de 1977, o nome original desta canção era "13 anos".           
Façam as contas... 
A Censura fez. E vetou a música. Com os discos prontos para ir para as lojas. 
Ao mesmo tempo, o senador Nelson Carneiro estava com a campanha do divórcio no Congresso. Até a aprovação do divórcio, só era possível desquitar-se, ou seja, dissolver a sociedade conjugal, com separação de corpos e bens, mas sem quebra do vínculo matrimonial. As pessoas se separavam, mas não podiam casar-se de novo. Nem lhes era permitido viver com outra pessoa.
Esta conjuntura dialogava com a letra da música. Desejo de ruptura com aquilo que prejudica outrem. A música foi apresentada para uma outra câmara da censura, com a mesma letra, mas com nome diferente: “O Divórcio”. Um outro setor de censura julgou e deixou passar. Quando perceberam o drible, já era tarde, a música já havia estourado. 

Havia intencionalidade de enfrentamento neste ato. Mas por algum motivo, as canções proibidas de Luiz Ayrão não lhe traziam o mesmo prestígio de Chico Buarque, por exemplo. Segundo Paulo César de Araújo, "os críticos, pesquisadores, musicólogos, enfim, os formadores de opinião, em sua maioria, pertencem a um segmento de classe média e formação universitária. O tipo de público que faz seu julgamento através da defesa do “autêntico”. (...). O que não for tradicional ou moderno não existe. Devido ao divórcio que existe entre a elite e o povo no Brasil, os ditos “cafonas” foram atirados no limbo da história." Ironicamente temos aí um encontro entre direita e esquerda no silenciamento de expressões populares, o que ajudava, e muito, o projeto ideológico da Ditadura Civil-Militar de dominação pela supressão de outras narrativas que não as canonizadas.

A Música Popular Brasileira que conhecemos do período assim passou por vários mecanismos de filtragem. Alguns continuam até hoje, semi-oficialmente. Saber a respeito ajuda a perceber a ruptura e, talvez, pensar Cultura Brasileira em novas perspectivas.


Não divorciadas do povo como narrador da própria história.





Este post faz parte da quinta blogagem coletiva #desarquivandoBR, que se realiza de 28/3 a 02/4.